terça-feira, 13 de outubro de 2009

39 - Direitos dos animais

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Animais na Arca de Noé. Foto da Net.

Completar-se-ão no próximo dia 21 de Outubro seis anos sobre a data do falecimento do meu tio paterno e grande amigo Aires Junqueira. Embora a sua formação académica não tenha ido além da instrução primária, era um homem polido e sábio. Uma vida intensamente vivida, uma parte em Portugal outra em França que o acolheu no final da década de sessenta, assim como o contacto com as figuras mais ilustres do Pombal do seu tempo, conferiram-lhe a distinção de Dr. ad hoc como era tratado pela família e amigos. Dava luta na discussão de qualquer assunto, fosse ele de índole política, nacional ou internacional, económica ou desportiva. Em matéria de bom senso, coisa escassa nos nossos dias, era uma autoridade! O que sempre admirei nas suas dissertações foi o elevado nível da fundamentação que tantas vezes lhe permitiu antecipar acontecimentos decisivos para o avanço da sociedade. Quando eu o contestava contrapondo o que me pareciam evidências, ele arrumava-me com a seguinte estocada:
“Olha pá, o mundo nunca anda para trás!”
E não anda de facto, embora às vezes pareça.
Entrou hoje em vigor uma portaria que constitui mais um avanço (pequeno) quanto a garantias nos direitos dos animais. Sinto-me feliz por isso e não posso deixar de estabelecer o paralelo com outros saltos civilizacionais tão importantes como a abolição da escravatura, em que Portugal se destacou no ranking dos países abolicionistas. O alcance da portaria é ainda bastante limitado e parece aplicar-se exclusivamente ao contingente dos animais de circo. No entanto, tudo tem um princípio e este pode ser um grande primeiro passo no sentido de, num amanhã não muito distante, passarmos a considerar os animais seres com personalidade reconhecida e não apenas coisas sobre as quais temos poder absoluto. Longe vai o tempo em que na escola primária se ensinava aos meninos que os animais se dividiam em dois grupos, racionais, que englobava a espécie humana e irracionais, todos os outros. Estes, os irracionais, caracterizavam-se por não possuírem espírito ou alma, o que os colocava muito próximo dos objectos inanimados. Não tendo alma, não tinham consciência, emoções ou sentimentos e tudo o que de notável demonstrassem no campo afectivo ou emocional, mais não era do que manifestação atávica do instinto.
Níveis variáveis de inteligência, a consciência de si e dos outros, quer sejam da mesma ou de outra espécie, o sentido da morte, a dor psíquica, amor, paixão, alegria, tristeza, iritação, saudade … demonstram bem que não é só no ADN que os animais são nossos irmãos, como de resto o confirmam os imensos estudos de neurofisiologia comparada realizados nas últimas décadas.
A referência que guardo das grandes figuras da humanidade, é a sua generosidade e magnanimidade. Magnânimo é aquele que voluntariamente abdica dos seus poderes ou direitos a favor da vida, segurança e bem-estar dos que lhe estão sujeitos. Penso ser esse o espírito desta e de todas as leis que venham reforçar os direitos dos animais. Persistir na subjugação dos bichos, vivam eles livremente na selva ou sejam nossos vizinhos de arrebate, humilhando-os ao ponto de os obrigar a fazer macacadas para nosso divertimento, é, a meu ver, uma forma abjecta de nos rebaixarmos como espécie dominante. Animais imensamente mais poderosos de que nós, não nos tratariam dessa maneira. Sejamos pois dignos destes fantásticos companheiros nesta extraordinária viajem através do universo que com eles iniciámos há milhões de anos, e que pode terminar abruptamente se continuarmos a desrespeitar os nossos amigos.
Quem não se emocionou perante um acto de abnegação de um animal que sacrificou a vida para salvar o seu filho, o dono ou o filho do dono? Vamos pensar nisso!
Juan_jovi@sapo.pt

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